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Natureza Jurídica: Entenda as 10 Principais Classificações de CNPJ

Descubra o que é natureza jurídica e conheça as 10 principais classificações de CNPJ no Brasil. Guia completo para escolher a melhor estrutura para sua empresa

Natureza Jurídica: Entenda as 10 Principais Classificações de CNPJ

Quando você vai abrir uma empresa, uma das primeiras decisões importantes é escolher a natureza jurídica. Esse termo pode soar complicado, mas é simplesmente a forma legal que sua empresa vai assumir perante a lei brasileira.

Eu confesso que quando ouvi falar de natureza jurídica pela primeira vez, achei que era apenas mais um detalhe burocrático sem muita importância. Mas depois descobri que essa escolha influencia muita coisa: desde quanto de imposto você vai pagar até como vai ser a responsabilidade sobre dívidas da empresa.

Vou te explicar de forma bem clara o que é natureza jurídica e apresentar as 10 principais classificações que existem no Brasil. Assim você consegue entender qual faz mais sentido para o seu tipo de negócio.

O Que É Natureza Jurídica

Natureza jurídica é basicamente a categoria legal que define como sua empresa está organizada. É como se fosse o DNA jurídico do seu negócio, que determina regras específicas de funcionamento, tributação e responsabilidades.

Cada natureza jurídica tem características próprias sobre número de sócios permitidos, capital social mínimo, forma de gestão, distribuição de lucros e responsabilidade dos donos sobre dívidas da empresa.

A Receita Federal mantém uma tabela oficial com dezenas de códigos de natureza jurídica. Cada código representa um tipo diferente de organização empresarial. Quando você registra seu CNPJ, precisa informar qual natureza jurídica sua empresa terá.

Essa escolha não é permanente para sempre. Se sua empresa crescer ou suas necessidades mudarem, você pode alterar a natureza jurídica. Mas isso envolve custos e processos burocráticos, então é melhor escolher bem desde o começo.

Por Que a Natureza Jurídica Importa

A natureza jurídica escolhida afeta diretamente vários aspectos importantes do seu negócio. Vou te mostrar os principais.

Primeiro, ela determina sua responsabilidade pessoal sobre dívidas da empresa. Em algumas naturezas jurídicas, seus bens pessoais podem ser usados para pagar dívidas do negócio. Em outras, você responde apenas com o capital que investiu na empresa.

Segundo, influencia na tributação. Certas naturezas jurídicas podem optar por regimes tributários específicos, enquanto outras têm limitações. Isso pode significar pagar mais ou menos impostos no final do mês.

Terceiro, afeta as obrigações contábeis e fiscais. Empresas com naturezas jurídicas mais complexas têm mais declarações para entregar e mais controles para manter, o que aumenta os custos com contabilidade.

Por fim, a natureza jurídica pode facilitar ou dificultar acesso a financiamentos, participação em licitações e credibilidade no mercado. Algumas empresas só fazem negócios com determinados tipos de natureza jurídica.

Microempreendedor Individual (MEI)

Vamos começar pela natureza jurídica mais simples e popular do Brasil: o MEI. Essa categoria foi criada especialmente para tirar pequenos empreendedores da informalidade.

O MEI é perfeito para quem trabalha sozinho ou com no máximo um funcionário, e fatura até 81 mil reais por ano. É a porta de entrada mais fácil no mundo empresarial brasileiro.

A grande vantagem do MEI é a simplicidade total. Você abre pela internet em minutos, paga apenas um valor fixo mensal baixo (cerca de 70 a 75 reais em 2025), e tem obrigações fiscais super simples.

Características do MEI

Como MEI, você não tem sócios. É um empreendimento individual, onde você é o único responsável por tudo. Essa natureza jurídica não permite sociedade de forma alguma.

Você responde ilimitadamente pelas dívidas do negócio. Isso significa que se sua empresa tiver problemas financeiros, seus bens pessoais podem ser usados para pagar as dívidas. Por isso é importante separar bem as finanças pessoais das empresariais.

Existem limitações de atividades permitidas. Profissões regulamentadas como médicos, advogados e engenheiros não podem ser MEI. A lista de atividades permitidas está disponível no Portal do Empreendedor.

Quando Escolher MEI

O MEI é ideal se você está começando um pequeno negócio, trabalha sozinho ou com apenas um ajudante, e seu faturamento é baixo. É perfeito para prestadores de serviços, pequenos comerciantes e artesãos.

Se você quer algo simples, barato e sem muita burocracia, definitivamente comece como MEI. Você sempre pode migrar para outra natureza jurídica quando seu negócio crescer.

Empresário Individual (EI)

O Empresário Individual é uma natureza jurídica para quem quer trabalhar sozinho mas não se enquadra no MEI, seja por faturar mais, por ter funcionários demais, ou por exercer atividade não permitida no MEI.

Assim como o MEI, o EI não tem sócios. Você é o único dono do negócio. A diferença está nos limites e nas obrigações fiscais, que são maiores.

No Empresário Individual, você também responde ilimitadamente pelas dívidas. Se a empresa quebrar, credores podem ir atrás dos seus bens pessoais. Por isso muita gente prefere outras naturezas jurídicas que oferecem proteção patrimonial.

Vantagens do Empresário Individual

A principal vantagem é que você mantém controle total sobre o negócio, sem precisar dividir decisões com sócios. Tudo é mais rápido e simples na hora de tomar decisões estratégicas.

O processo de abertura é relativamente simples, embora mais complexo que o MEI. Você pode optar pelo Simples Nacional se seu faturamento permitir, o que facilita bastante a vida tributária.

Não há exigência de capital social mínimo, então você pode começar com o dinheiro que tiver disponível.

Desvantagens do EI

A grande desvantagem é a responsabilidade ilimitada. Seus bens pessoais estão em risco se a empresa tiver problemas. Para muitos empreendedores, essa insegurança é inaceitável.

Se você morrer, a empresa se encerra automaticamente, a não ser que os herdeiros queiram continuar, o que envolve processos burocráticos complicados.

Sociedade Limitada Unipessoal (SLU)

A Sociedade Limitada Unipessoal é uma criação mais recente que resolveu um problema antigo: como ter uma empresa sozinho mas com responsabilidade limitada?

A SLU permite que você abra uma empresa sem sócios, mas diferente do EI, aqui você responde apenas com o capital social da empresa. Seus bens pessoais ficam protegidos, desde que você não misture as finanças.

Essa natureza jurídica está se tornando muito popular porque combina o melhor dos dois mundos: autonomia total nas decisões e proteção patrimonial.

Como Funciona a SLU

Você precisa definir um capital social na abertura da empresa, mas não há valor mínimo obrigatório. Pode ser 1 real, 1.000 reais, ou o quanto fizer sentido para seu negócio. Claro que valores muito baixos podem passar impressão de empresa fraca.

A responsabilidade é limitada a esse capital social. Se a empresa tiver dívidas, credores só podem ir atrás do patrimônio da empresa, não do seu patrimônio pessoal (exceto em casos de fraude ou confusão patrimonial).

Você precisa de um contador para fazer toda a contabilidade e cumprir as obrigações fiscais, que são mais complexas que no MEI.

Quando a SLU é a Melhor Opção

Se você quer empreender sozinho mas precisa de proteção patrimonial, a SLU é perfeita. É ideal para profissionais liberais, consultores, prestadores de serviços especializados e pequenos negócios que faturam acima do limite do MEI.

Também é ótima opção se você pretende fazer investimentos maiores no negócio e quer proteger seu patrimônio pessoal de eventuais riscos.

Sociedade Limitada (Ltda.)

A Sociedade Limitada é disparado a natureza jurídica mais comum no Brasil para empresas com dois ou mais sócios. É versátil, oferece proteção patrimonial e pode ser usada em praticamente qualquer ramo de atividade.

Nessa natureza, os sócios respondem pelas dívidas da empresa apenas até o limite do capital social. Cada sócio responde proporcionalmente à sua participação, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital.

Isso significa que se o capital social total é de 100 mil reais, dividido igualmente entre dois sócios de 50 mil cada, e apenas um integralizou sua parte, ambos podem ser cobrados até que todo o capital esteja integralizado.

Estrutura da Sociedade Limitada

A Ltda. precisa de um contrato social bem elaborado, que define regras claras sobre participação de cada sócio, distribuição de lucros, responsabilidades de cada um e o que acontece em situações especiais como saída de sócios ou dissolução da empresa.

Pode ter de 2 até quantos sócios forem necessários. Não há limite máximo. Cada sócio tem cotas, que representam sua participação no capital social da empresa.

A gestão pode ser feita por um ou mais sócios, ou até por terceiros contratados, dependendo do que estiver definido no contrato social.

Vantagens da Sociedade Limitada

A responsabilidade limitada protege o patrimônio pessoal dos sócios. Isso traz segurança importante, especialmente em negócios que envolvem riscos maiores.

É fácil incluir novos sócios ou fazer um sócio sair, desde que o contrato social preveja isso. Essa flexibilidade ajuda muito quando o negócio precisa crescer ou se reorganizar.

Pode optar por diversos regimes tributários, incluindo Simples Nacional (se atender os requisitos), Lucro Presumido ou Lucro Real. Seu contador vai ajudar a escolher o mais vantajoso.

Cuidados com a Ltda.

O contrato social precisa ser muito bem feito. Muitas brigas entre sócios acontecem porque o contrato não previu situações importantes. Vale a pena investir em um bom advogado empresarial para elaborar esse documento.

A separação entre patrimônio pessoal e empresarial precisa ser rigorosa. Se você mistura as finanças, pode perder a proteção da responsabilidade limitada.

Sociedade Anônima (S.A.)

A Sociedade Anônima é uma natureza jurídica mais sofisticada, geralmente usada por empresas maiores ou que pretendem ter ações negociadas na bolsa de valores.

Na S.A., o capital social é dividido em ações. Os donos da empresa são chamados de acionistas, não de sócios. Pode ser de capital aberto (com ações negociadas na bolsa) ou de capital fechado (sem negociação pública de ações).

A responsabilidade dos acionistas também é limitada. Eles respondem apenas pelo preço das ações que compraram, nada além disso.

Características das S.A.

Sociedades Anônimas têm estrutura mais complexa, com assembleia de acionistas, conselho de administração e diretoria. Existem regras rígidas sobre como as decisões devem ser tomadas.

São obrigadas a publicar demonstrações financeiras regularmente. Isso traz mais transparência, mas também mais custos com contabilidade e publicações oficiais.

Precisam de pelo menos dois acionistas para abrir, mas depois podem ter apenas um se as ações forem concentradas em uma pessoa.

Quando Considerar S.A.

A Sociedade Anônima faz sentido para empresas que querem crescer muito, captar investimentos grandes ou eventualmente abrir capital na bolsa de valores.

Também é usada quando há muitos investidores envolvidos, porque a estrutura com ações facilita a entrada e saída de investidores sem precisar alterar documentos toda hora.

Para pequenos negócios, geralmente não vale a pena pela complexidade e custos envolvidos. Comece com algo mais simples e evolua para S.A. se realmente fizer sentido no futuro.

Sociedade Simples

A Sociedade Simples é voltada especificamente para prestação de serviços de profissões intelectuais, como médicos, dentistas, advogados, arquitetos, engenheiros e contadores que querem trabalhar em sociedade.

Nessa natureza jurídica, os sócios precisam ser profissionais habilitados na área de atuação da empresa. Não pode ter sócio que não seja do ramo profissional.

A responsabilidade dos sócios pode ser limitada ou ilimitada, dependendo do que for estabelecido no contrato social. É mais comum ser subsidiária, onde primeiro se esgota o patrimônio da empresa e só depois os bens dos sócios podem ser atingidos.

Diferenças da Sociedade Simples

Enquanto outras empresas se registram na Junta Comercial, a Sociedade Simples pode se registrar no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Isso torna o processo um pouco diferente.

Não pode exercer atividades comerciais ou industriais, apenas prestação de serviços intelectuais. Se você quer vender produtos, essa natureza jurídica não serve.

Geralmente não pode optar pelo Simples Nacional (exceto em casos específicos), o que pode resultar em carga tributária maior.

Cooperativa

Cooperativas são organizações formadas por pessoas que se unem para atingir objetivos comuns, geralmente econômicos. É uma natureza jurídica bem diferente das outras.

Não há patrões nem empregados em uma cooperativa. Todos são cooperados, com direitos e deveres iguais (normalmente um voto por pessoa, independente da contribuição financeira de cada um).

Os resultados financeiros não são chamados de lucro, mas de sobras, e são distribuídos entre os cooperados proporcionalmente à participação de cada um nas atividades da cooperativa.

Tipos de Cooperativas

Existem cooperativas de consumo (membros compram produtos em conjunto para ter preços melhores), de crédito (como uma espécie de banco dos cooperados), de trabalho (profissionais se juntam para prestar serviços), agropecuárias (produtores rurais), habitacionais, entre outras.

Cada tipo tem regras específicas, mas todas seguem princípios cooperativistas como adesão voluntária, gestão democrática e educação dos cooperados.

Vantagens e Limitações

Cooperativas têm benefícios fiscais interessantes. Em muitos casos, pagam menos impostos que empresas tradicionais, justamente por seu caráter social.

Por outro lado, a gestão democrática pode tornar decisões mais lentas, já que questões importantes precisam ser decididas em assembleia com todos os cooperados.

Associação

Associações são entidades sem fins lucrativos formadas por pessoas com interesses comuns. Diferente das empresas, associações não podem distribuir resultados financeiros entre seus membros.

Qualquer dinheiro que sobrar das atividades precisa ser reinvestido na própria associação, em suas finalidades estatutárias. Os associados não recebem lucros, apenas se beneficiam dos serviços que a associação oferece.

Associações são comuns em clubes esportivos, entidades culturais, organizações de classe profissional e grupos comunitários.

Funcionamento das Associações

Precisam ter um estatuto que define os objetivos, direitos e deveres dos associados, forma de administração e regras de funcionamento.

A gestão é feita por uma diretoria eleita pelos associados, geralmente sem remuneração ou com remuneração limitada.

Podem cobrar mensalidades dos associados e realizar atividades que gerem receita, desde que tudo seja usado nos objetivos da associação.

Fundação Privada

Fundações são criadas por pessoas ou empresas que destinam patrimônio para uma finalidade específica, geralmente de caráter social, cultural, educacional ou científico.

Diferente das associações (que são grupos de pessoas), fundações são patrimônios destinados a um fim. O fundador doa bens ou recursos e estabelece para que serão usados.

Fundações também não têm fins lucrativos. Todo o patrimônio e resultados devem ser aplicados na finalidade prevista no estatuto.

Criação de Fundações

Criar uma fundação é mais complexo que outras naturezas jurídicas. Precisa de aprovação do Ministério Público, que fiscaliza se os objetivos são realmente de interesse público e se o patrimônio inicial é suficiente.

São usadas geralmente quando há patrimônio significativo para doar (terrenos, imóveis, recursos financeiros grandes) e objetivos de longo prazo que precisam de estrutura permanente.

Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI)

A EIRELI foi uma natureza jurídica importante entre 2011 e 2021, mas desde que a Sociedade Limitada Unipessoal foi criada, não é mais possível abrir novas EIRELIs.

As EIRELIs existentes podem continuar funcionando ou ser transformadas em SLU. A grande diferença da EIRELI para a SLU era a exigência de capital social mínimo de 100 salários mínimos, o que tornava muito cara a abertura.

Se você tem uma EIRELI hoje, vale conversar com seu contador sobre transformar em SLU, que tem as mesmas vantagens mas sem essa exigência pesada de capital mínimo.

Como Escolher a Natureza Jurídica Certa

Agora que você conhece as principais naturezas jurídicas, como escolher a melhor para seu caso?

Comece respondendo algumas perguntas básicas: Você vai ter sócios ou trabalhar sozinho? Quanto pretende faturar? Quer proteger seu patrimônio pessoal ou isso não é prioridade? Sua atividade tem alguma restrição legal?

Se você está começando sozinho com faturamento pequeno, MEI é o caminho. Simples, rápido e barato.

Se fatura mais ou sua atividade não se enquadra no MEI, mas quer trabalhar sozinho com proteção patrimonial, escolha SLU.

Se vai ter sócios, a Sociedade Limitada é quase sempre a melhor opção pela flexibilidade e proteção que oferece.

Para profissionais liberais em sociedade, verifique se a Sociedade Simples faz sentido, mas considere também a Ltda. dependendo do planejamento tributário.

Importância do Planejamento

Antes de decidir definitivamente, converse com um contador e, se possível, com um advogado empresarial. Eles vão analisar seu caso específico e podem sugerir a melhor estrutura considerando aspectos tributários, legais e estratégicos.

Lembre-se de que a escolha errada pode custar caro. Tanto em impostos pagos a mais quanto em riscos desnecessários ao seu patrimônio pessoal.

Por outro lado, não deixe a escolha da natureza jurídica te paralisar. Se você ainda está em dúvida entre duas opções, comece com a mais simples. Você sempre pode mudar depois, quando tiver mais clareza sobre os rumos do negócio.

Entender as diferentes naturezas jurídicas é fundamental para qualquer empreendedor. Essa escolha afeta desde questões práticas do dia a dia até a segurança do seu patrimônio pessoal. Cada natureza tem suas vantagens e situações onde faz mais sentido. O importante é você conhecer as opções, avaliar seu caso específico e tomar uma decisão informada. Com a natureza jurídica certa, você começa seu negócio com uma base sólida, preparado para crescer de forma segura e sustentável.